sábado, 31 de outubro de 2015

3 300 - Adeus a Zalala, Santa Isabel e Liberato, emancipação angolana

O 1º. sargento José Claudino Luzia, da CCS dos Cavaleiros 
do Norte, no bar do Quitexe, ladeado pelos furriéis milicianos 
José Monteiro (à esquerda) e Viegas



Os furriéis milicianos Alcides Ricardo ( de
Odivelas) e Agostinho Belo (do Retaxo, em Castelo
Branco ), ambos da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa
Isabel. Há 41 anos!

O mês de Outubro de 1974 chegou ao fim e estava pré-anunciado o «abandono, por parte da autoridade militar, das Fazendas Zalala, Santa Isabel e Liberato,  as quais desde 1962 estavam militarmente ocupadas».
A muito, muito desejada «operação de retracção do dispositivo militar» era cada vez mais expectada, principalmente «operada face ao cessar fogo anunciado pelos três partidos emancipalistas de Angola» - a FNLA (que, principalmente, operava na ZA dos Cavaleiros do Norte e Norte de Angola), MPLA e UNITA.
Ao mesmo tempo, a formação de um Governo de Transição parecia iminente e era essa a manifesta vontade dos três movimentos. Agostinho Neto, presidente do MPLA, anunciava isso mesmo, em Kinshasa, e já para Novembro, assumindo «formar uma frente unida com a FNLA» - rejeitando ambos ligações com a UNITA, que «não é reconhecido pela OUA».
Ao mesmo tempo, Daniel Chipenda, líder de uma das facções dissidentes do MPLA, afirmava em Kinshasa que «o dr. Agostinho Neto não tem representatividade para concluir um acordo de cessar fogo com as autoridades portuguesas». Mas o Daily News, órgão do Governo da Tanzânia, escrevia que Daniel Chipenda era «um homem traiçoeiro e ambicioso, que há muito que deveria ter sido expulso do MPLA, que procura impedir a maré de libertação que está a subir cada vez mais em Angola». E acrescentava que «já há muito deveria ter sido expulso do MPLA, não fossem as qualidades de moderação do dr. Agostinho Neto».
Há 41 anos, expectava-se as formação de
um Governo de Transição de Angola. A notícia
é da 1ª. página do Diário de Lisboa de 31 de
Outubro de 1974
Um ano depois, o dia da independência estava cada vez mais à porta e, no plano político-militar, a situação angolana não registou «alterações assinaláveis nas frentes Sul e Norte, nas últimas 24 horas». Todavia, a Sul, Moçâmedes e Sá da Bandeira «continua(va)m ocupadas» e a situação, segundo o Diário de Luanda, «mantém-se grave»
«As forças das FAPLA continuam a desenvolver acções do tipo guerrilha contra o inimigo, registando-se ampla participação da população local», noticiava o DL, acrescentando que «as forças do ELP e da África do Sul, constituindo uma ponta de lança dos fantoches da FNLA e da UNITA, parecem tentar um avanço sobre o Lobito, dividindo-se em duas colunas: uma localizada na estrada marginal e outra deslocando-se pelo interior».
Assim ia Angola, há justamente 40 anos!.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

3 299 - Reunião no Quitexe e três frentes em combate

Manuel Dinis Dias, José António Nascimento e Plácido Jorge Queirós: três 
furriéis Cavaleiros do Norte da 1ª. CAV. 8423, a de Zalala!

Cavaleiros do Norte no jardim do Quitexe: os
furriéis milicianos Viegas e Neto, que, há 41 anos
fazia malas para vir de férias a Portugal

A 30 de Outubro de 1974, a Comissão Local de Contra-Subversão (CLCS) reuniu uma vez mas no Quitexe. Não se sabia, ao tempo, mais foi uma das suas últimas reuniões. A partir de 11 de Dezembro do mesmo ano, passaria a denominar-se Comissão de Coordenação Civil-Militar (CCCM).
O furriel Francisco Neto, meu furriel-irmão da jornada africana do Uíge Angolano, fazia malas para as férias em Portugal e, em Lisboa, a Casa de Angola realizou um comício de apoio ao MPLA, enchendo literalmente o Pavilhão dos Desportos. Um comício contra «o imperialismo, de mãos dadas com o capital financeiro monopolista e com a reacção, que tenta defender os sues interesses, para perpetuar a exploração do nosso povo e as riquezas do nosso país».
Um ano depois, precisamente, o Diário de Lisboa (em serviço especial do Diário de Luanda) dava conta que «mantém-se grave a situação no sul de Angola, com forças do ELP, de mercenários sul-africanos e da UNITA/FNLA/UPA continuando a ocupar Sá da Bandeira e Moçâmedes». As forças das FAPLA estavam mais concentradas no Caxito (para defender Luanda) e Nova Lisboa (Huambo) e não dispunham de suficiente material bélico em Sá da Bandeira e Moçâmedes. Iriam optar, nestas duas cidades, por «operações tipo guerrilha».
Sobre a ocupação de Moçâmedes, soube-se neste dia de há 40 anos, que as (poucas) tropas portuguesas ali estacionadas, segundo o Diário de Lisboa, «não teriam reagido à agressão, tendo antes abandonado a cidade e sido evacuadas para Luanda» - evacuação que foi confirmada pelo Alto Comissário Leonel Cardoso.
Notícias de Angola, no Diário de
Lisboa de há 40 anos: dia 30 de
Outubro de 1975
O dia 11 de Novembro de 1975, o da independência de Angola, estava cada vez mais próximo e, ainda de Moçâmedes, soube-se que, e cito do DL, «no intuito de iludir a opinião pública, as forças do ELP e da África do Sul (...) abandonaram já a cidade, entregando-a a elementos das UNITA/FNLA/UPA». Helicópteros e navios de guerra que teriam participado no assalto à cidade «foram igualmente retirados da frente de combate, calculando.se que se preparem agora para apoiar o avanço sobre o Lobito».
Ao tempo, na assembleia geral da ONU, o MPLA denunciou a «participação de tropas e material militar sul-africano nas ocupações de Sá da Bandeira e de Moçâmedes» - citando expressamente o uso de helicópteros e blindados.
Jonas Savimbi, em Kinshasa e por sua vez, acusou o MPLA de «dispor de uma esquadrilha de aviões MIG-21, de fabrico soviético». Eram, disse o presidente da UNITA, «6 a 12 aviões que o MPLA tenciona usar até ao dia 11 de Novembro», o da independência.
A norte, do norte de Angola continuava o silêncio noticioso.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

3 298 - FNLA apresentada no Quitexe e a questionar o MPLA

Oficiais milicianos Cavaleiros do Norte: os alferes Jaime Ribeiro (CCS, 
do Tramagal), Augusto Rodrigues (3ª. CCAV., de Vouzela e em Lisboa) e José 
Alberto Alegria (CCS, de Oliveira de Azeméis e em Albufeira)


Cavaleiros do Norte de Zalala: os
furriéis milicianos Américo Rodrigues, Plácido
Queirós e Eusébio Martins (falecido, de
doença, a 16 de Abril de 2014, em Belmonte)

A 29 de Outubro de 1974, ao fim da tarde, eram 17,30 horas, apresentou-se no Quitexe «pela primeira vez, um grupo de 6 elementos armados da FNLA, dizendo-se pertencer ao «quartel» Aldeia e comandado pelo sub-comandante João Alves»
O grupo contactou o comandante Almeida e Brito e a autoridade administrativa local, «com vista ao esclarecimento de actividades na Serra Quibinda, que julgavam ser das NT», mas que, segundo o Livro da Unidade, «facilmente se concluíram ser de elementos estranhos, que procuram, certamente, criar um clima de desconfiança local, entre a FNLA e as NT».
O dia (ou a noite) foi oportunidade, também, para a última apresentação de um filme, do ciclo iniciado a 10 desse Outubro de 1974. As exibições tinham intuitos de «acção psicológica» e percorrido as várias subunidades.
Título do Diário de Lisboa de 29 de Outubro
de 1974: «A FNLA acusa o Governo
de favorecer o MPLA». O Governo Português
Enquanto isso e a partir de Kinshasa, a FNLA, reassumia «a determinação de respeitar a letra e o espírito dos acordos assinados no dia 11 com o Governo Português», mas, por outro lado, a de «não reconhecer à Junta Governamental de Luanda poder político para discutir o futuro de Angola com os movimentos de libertação». Devia ser «ao nível de Lisboa», frisou o comunicado da FN LA.
O movimento de Holden Roberto também «denuncia(ou) com veemência as manobras de certos movimentos influentes» da Junta Governativa, que, na sua opinião, «consistem em encorajar, através das rádios e dos jornais, a campanha política de difamação ou de descrédito dum certo movimento contra os outros e ameaçar oficialmente qualquer órgão de imprensa que se disponha a difundir informações sobre a FNLA». Por outras palavras, o comunicado da FNLA, «fez eco de críticas anteriores ao tratamento preferencial que estaria a ser dado ao MPLA».
Um ano depois, sabiam-se, finalmente, notícias do Uíge controlado pela FNLA. O Diário de Lisboa de 29 de Outubro de 1975 noticiava que «a rádios dos mercenários, localizada em Carmona, capital do Uíge, para esconder as pesadas baixas sofridas na frente do Caxito, anuncia que os mercenários retiraram porque tinham de poupar o povo, que já não tinha comida em Luanda, nem água». Acrescentou, a rádio, que «foi a UPA/FNLA que enviou para Luanda água em aviões, para que o povo não morresse de sede».
A situação político-militar, a esse dia, tinha sofrido «grandes alterações em todas as frentes, nas últimas 24 horas», como relatava o DL. Na zona norte, registava-se «recuo das forças do ELNA (...), dada a contra-ofensiva desencadeada pelas forças populares». Retiraram para a zona do Ambrizete, incluindo as do Ambriz. Parecia, lê-se no DL, que «à primeira vista, as forças mercenárias desistiram do seu intento de cercar a capital», a cidade de Luanda. Os últimos combates tinham sido nas linhas de Santa Eulália e Camabatela - esta, bem próximo do «nosso» Quitexe.
«Angola: Situação difícil na Frente Sul | MPLA
avança nas outras frentes». Assim titulava o Diário de
Lisboa de 29 de Outubro de 1975. Já lá vão 40 anos!
Na Frente Centro, as FAPLA confirmaram a tomada de Cela e «ocuparam ontem a tarde o eixo rodoviário do Alto Hama», a cerca de 60 quilómetros de Nova Lisboa e de «importância vital para o planalto central, pois está no caminho para Silva Porto, Nova Lisboa, Lobito, Novo Redondo e Luanda». Na Frente Sul, a situação era «extremamente difícil». As chamadas forças mercenárias, segundo o DL, «massacraram a população» de Sá da Bandeira e, na véspera (dia 28), «ao fim da tarde, um comando helitransportado e apoiado por um vaso de guerra tomou a idade portuária de Moçâmedes».  Os mercenários «faziam-se transportar em 20 viaturas tipo blindado do Exército sul-africano, a que também pertenceriam o vaso de guerra e os helicópteros».
A cidade estava «ainda sob controlo das forças portuguesas, havendo uma reduzida força das FAPLA». Desconhecia-se «a sorte dos soldados portugueses» e se «se renderam ou combateram os mercenários que, como se sabe, integram também uma unidade do ELP». Assim noticiava o Diário de Lisboa de 29 de Outubro de 1975.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

3 297 - Visita solidária ao clarim Alexandre de Aldeia Viçosa

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa em encontro solidário: o  1º. cabo José
Freire, o António Soares, o capitão José Manuel Cruz, o clarim Alexandre 
Oliveira e o 1º. cabo rádiotelegrafista José Maria Beato

Os 1ºs. cabos Alfredo Coelho (Buraquinho) e
Victor Florindo, da direita para a esquerda, Cavaleiros
do Norte da CCS, no Quitexe. Quem identifica os dois
companheiros da esquerda?

A 25 de Outubro de 2015, o último domingo, quatro Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa foram «mobilizados» para um encontro solidário e amigo, com o clarim Alexandre Oliveira, que luta contra uma doença degenerativa, entre o hospital e a sua residência do Seixo Alvo, em Vila Nova de Gaia. Desde Junho deste ano.
Levaram-lhe uma palavra amiga e de esperança, numa tarde de amigos. «Foi uma tarde agradável, entre abraços, conversas sobre a doença e  também da nossa vida militar. Os nossos corações, os nossos sorrisos e os nossos olhares de esperança deram alegria e a força interior que o  nosso amigo Alexandre provavelmente tanto necessitaria», disse José Maria Beato, sugerindo um forte e sentido «força amigo Alexandre», em seu nome e «em nome dos Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. do Batalhão de Cavalaria 8423».
"Rápidas melhoras e para o ano queremos-te connosco em Guimarães», sublinhou José Maria Beato, que lá esteve com o capitão José Manuel Cruz, o 1º. cabo clarim José Freira e o atirador António Soares - interrogando-se, mas afirmando: «Afinal para que servem os verdadeiros amigos?».
Rosa Coutinho, há 41 anos, afirmava
que «gorou-se a «tentativa rodesiana» para
Angola», como se vê no Diário de Lisboa
de 28 de Outubro de 1974
Há 41 anos, dia 28 de Outubro de 1974, concluiu-se a operação de desarmamento das milícias e o comandante Almeida e Brito teve «contactos operacionais» no Comando do Sector do Uíge, em Carmona - onde de deslocou acompanhado de vários oficiais da CCS. 
Em Luanda e em declarações ao jornal A Província da Angola, Rosa Coutinho afirmava que «gorou-se uma conjuntura para um golpe separatista, do tipo rodesiano». A conspiração, segundo disse, partira de «forças reaccionárias que tentaram em Lisboa um golpe, durante os acontecimentos que levaram à renúncia de António Spínola à Presidência da República».
Um ano depois, com o dia da independência (11 de Novembro) cada vez mais próximo, o MPLA progredia nas três principais frentes de combate. O Diário de Lisboa, em serviço especial do Diário de Luanda, dava conta do «avanço das forças populares sobre o Huambo» e de, após «violentos combates», tomaram Cela «de assalto» - cidade a 180 quilómetros de Nova Lisboa, na estrada para Luanda. E avançavam na estrada do Lobito para Nova Lisboa, tomando Quimbale, a 30 quilómetros da Alto Hama.
A sul, as forças da FNLA/UNITA, com mercenários, foram cercadas pelas FAPLA, na zona de Sá da Bandeira. A Norte, a situação continuava «praticamente estacionária», até com alguma «descompressão militar no triângulo Libongos/Caxito/Barra do Dande, dado o recuo das forças invasoras para a linha Sasso/Caxito»
«O MPLA progride nas três frentes», noticiava
o Diário de Lisboa de 28 de Outubro de 1975, sobre
 a situação militar em Angola
As forças do
 MPLA, a esse tempo, prosseguiam o avanço, com «o objectivo de desobstruir a estrada Caxito-Úcua-Piri». As forças da FNLA, recuadas, «lançam agora raids a partir do Ambriz, para defenderem o material pesado e as unidades que se encontram no terreno da luta».
O Uíje, terra da FNLA - dos «nossos» Quitexe, Aldeia Viçosa e Carmona (sem esquecer Zalala, Aldeia Viçosa, Vista Alegre) - o Uíge continuava fora dos noticiários. O que se passaria por lá?

terça-feira, 27 de outubro de 2015

3 296 - Mobilização política, combates em Sá da Bandeira e Caxito


Cavaleiros do Norte rádio-montadores da CCS, na parada do Quitexe: 1º. cabo 
Rodolfo Tomás(de Lousada), furriel António Cruz (de Cardigos e em 
Lisboa), 1º. cabo António Pais (de Viseu e em Peniche) e António José Silva (Gaia)


Grupo de Cavaleiros do Norte de Santa
Isabel, da 3ª. CCAV. 8423, em momento
de descontração, a banharem-se num rio
uíjano. Quem sabe identificá-los? O primeiro,
atrás e do lado direito é o Fernando Simões,
apontador de metralhadoras 


O comodoro Leonel Cardoso, da Junta Governativa e comandante naval de Luanda, considerou, sobre o acordo de cessar fogo com o MPLA, que «pela nossa parte, desejamos que o processo para a ascensão à independência se realiza tão depressa quanto o aconselhável e ao mesmo tempo com o mínimo de perturbações».
O futuro (último) Alto Comissário e Governador Geral de Angola falava ao jornal O Comércio, de Luanda, e considerou que «agora que os movimentos tê a possibilidade de fazerem a mobilização política das massas até aqui apolíticas, começam a aderir a este ou aquele partido» e que «isto é que vai definir o futuro».
Futuro que um ano depois e em vésperas do 11 de Novembro, dia da independência angolana, era tempo de Sá da Bandeira ser «terra de ninguém», depois da «ofensiva do MPLA contra as forças mercenárias» que, segundo o Diário de Lisboa (em serviço especial do Diário de Luanda), «tentam abrir caminho rumo a Moçâmedes, na tentativa de assegurarem o controlo de um porto de mar», vital para o abastecimento das forças da UNITA e da FNLA, estacionadas nas frentes sul e centro».
A primeira página do Diário de
Lisboa de 27 de Outubro de 1975
A uns 50 quilómetros de Luanda, no  Caxito, «a situação evolui(a) favoravelmente para as FAPLA», depois da «grande ofensiva desencadeada por estas forças, na passada 5ª.-feira» - dia 23. O jornal sublinha(va) que «os mercenários da FNLA tiveram de recuar para posições que neste momento se situam nas proximidades da fazenda, portanto a apenas 10 quilómetros do Caxito».
Ao tempo, os Cavaleiros do Norte já há mais de mês e meio estavam em Portugal e todos os dias, ao fim da tarde, procurava o Diário de Lisboa, para saber notícias de Angola. Do «nosso» Uíge raramente apareciam. Tal como a 27 de Outubro de 1975, hoje se fazem 40 anos!
- SIMÕES. Fernando Martins Simões, 1º. cabo 
apontador de morteiros, da 3ª. CCAV. 8423. 
Foi motorista de profissão e faleceu a 17 de Agosto 
de 1998, por enforcamento, em Penacova.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

3 295 - Desarmamento das milícias e vésperas da independência...

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, numa excursão 
às Quedas do Duque de Bragança. O alferes Carlos Silva está assinalado a 
amarelo. Quem conhece e identifica os restantes?

O alferes Lains dos Santos e os
furriéis Plácido Queirós (que hoje faz 63 

anos) e Américo Rodrigues, Cavaleiros 
do Norte de Zalala

A 26 de Outubro de 1975, «os combates prosseguiam ininterruptamente», na zona de Sá da Bandeira e desde o dia 24, «sendo difícil avaliar as posições das forças em presença», como relatava o Diário de Lisboa desse dia. No centro norte, zona do Caxito, informava o jornal que «a situação evolui favoravelmente para as FAPLA» - o exército do MPLA.
O jornal dava igualmente conta que «os dois batalhões do Exército de Libertação de Portugal (ELP). juntamente  com os mercenários sul-africanos e elementos da FNLA e da UNITA envolvidos nas frentes de Sá da Bandeira, são chefiados pelo «comandante» Roxo, que se distinguiu pelas atrocidades cometidas contra a população civil moçambicana durante a guerra colonial».
A independência estava a 16 dias!
Um ano antes, no Quitexe, relata o Livro da Unidade que «foi realizada uma reunião com os regedores, aos quais foi feito ver a necessidade de entregarem o armamento das milícias». A operação de desarmamento tinha começado a 21 de Outubro e, como já aqui escrevemos, «não teve boa aceitação por arte dos povos, nomeadamente dos postos-sede», no Quitexe e Aldeia Viçosa. 
Os milícias apresentados, sabia-se e como já aqui contámos, como refere o Livro da Unidade, que «vivem em contacto permanente, quase geral há largos anos» com o IN. E também se sabia que «salvo honrosas excepções, as milícias não tiveram actuações de vulto em defesa dos seus aldeamentos». Todavia, acrescenta-se no LU, «mesmo assim, argumentam os povos que esses núcleos armados são a melhor defesa às acções de depradação e exigência do IN».
Notícia do Diário de Lisboa de 26 de Outubro
de 1974, com declarações de Agostinho Neto,
presidente do MPLA: «Chegaremos a uma frente
comum para a independência de Angola»
Em Luanda e em entrevista ao jornal O Comércio, o presidente Agostinho Neto (MPLA) dava conta de terem sido feitos «esforços para a unidade» e de acreditar que «chegaremos ao momento em que todos nos uniremos numa frente comum para a independência do nosso país, pois o nosso desejo é sempre o de colaborar com todas as forças patrióticas».
Agostinho Neto negou ter estado com Jonas Savimbi (presidente da UNITA), mas considerou que «estamos a estudar o problema da UNITA, pois existem graves acusações sobre o seu presidente, feitas até por militares». Mal se adivinharia o que se passaria um ano depois, em vésperas da independência.

domingo, 25 de outubro de 2015

3 294 - Mudanças nos Cavaleiros e independência a 16 dias

Grupo de Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa. A foto é do Aniano Tomás 
(o quarto, do lado direito), que não se lembra dos nomes dos
 outros  companheiros. Alguém poderá ajudar a identificá-los? 


Foto da 1ª. página do Diário de Lisboa de 25
de Outubro de 1975. Acompanhava o texto
 do título reproduzido abaixo

 



Há precisamente 41 anos, dia 25 de Outubro de 1974, o que faziam os Cavaleiros do Norte na sua jornada africana do Uíge angolano? Expectavam!!! Expectavam sobre «a anunciada remodelação do dispositivo», como se lê no Livro da Unidade.
A CCAÇ. 209, a da Fazenda Liberato, e a CCAÇ. 4155, a de Vista Alegre, já se sabia,  «abandonam o subsector». A primeira para a sua sede, o RI 21, de Nova Lisboa. A segunda, para o Sector de Luanda. Quanto aos Cavaleiros do Norte, afinal, iram continuar pelo chão uíjano - embora com duas alterações: a 1ª. CCAV. 8423 iria de Zalala para Vista Alegre e a 3ª. CCAV. 8423 da Fazenda Santa Isabel para o Quitexe, sede do Batalhão. 
Enquanto isso, em Lisboa, simpatizantes do MPLA agrupados na Casa de Angola anunciaram a realização de um comício de apoio àqueles movimento de libertação, a 29 de Outubro, no pavilhão dos Desportos e intitulando o movimento de Agostinho Neto como «vanguarda» do povo angolano.
Título do Diário de Lisboa de há 40
anos, dia 25 de Outubro de 1975, Faltavam
apenas 16 dias para a independência 
Um ano depois e a 16 dias da independência, o MPLA anunciou «uma grande ofensiva contra as posições dos mercenários, em Sá da Bandeira, depois de previamente evacuarem todos os civis», como relatava o Diário de Lisboa, em serviço especial do Diário de Luanda,
A chamadas «forças invasoras» tinham apoio da África do Sul, segundo o MPLA, e integravam «tropas regulares sul-africanas, forças mercenárias do traidor Daniel Chipenda, elementos do 5º. Comando do major Mike Hioare (conhecidas pelas atrocidades praticadas pelos seus mercenários no Congo, nos anos 60), alguns homens da FNLA e da UNITA» - cerca de 1000 combatentes. 
Em Cabinda, ainda segundo o DL, «as FAPLA  repeliram ontem mais uma força estrangeira, com mercenários zairenses, portugueses, sul-africanos, belgas e brasileiros». O ataque, segundo o Comandante Júlio Almeida (Juju), «teve lugar a partir do Zaire» - que este militar considerou «o país de Holden Roberto», o presidente da FNLA.
No Caxito, ainda segundo Juju, «tiveram lugar violentos combates, ma zona do Porto Quipiri», no dia 23. Acrescentou o comandante do MPLA que «os invasores tentaram progredir até Quifangondo, mas o fogo intenso da nossa artilharia obrigou-os ao recuo, tendo deixado no terreno uma auto-metralhadora e dois blindados equipados de canhão, que foram destruídos».
Notícias do norte, das terras do Uíge por onde tinham jornadeado os Cavaleiros do Norte, é que não havia. 

sábado, 24 de outubro de 2015

3 293 - Cessar fogo com MPLA e independência a 17 dias

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, 2ª. CCAV. 8423: os furriéis milicianos 
António Rebelo (transmissões), Amorim Martins (mecânico), Abel Mourato 
(vagomestre) e Mário Matos (atirador de Cavalaria)

O alferes miliciano João Machado (ao centro),
com os furriéis milicianos António Carlos
Letras  e José Fernando Melo, Cavaleiros do
Norte de Aldeia Viçosa, que há 41 anos receberam
o comandante Almeida e Brito

Aos 24 dias de Outubro de 1974, o comandante Almeida e Brito deslocou-se a Aldeia Viçosa, onde se aquartelava a 2ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz. 
O objectivo era estabelecer «contactos operacionais», numa altura em que começava a murmurar-se, entre a guarnição, a probabilidade de o BCAV. 8423 ir rodar. O que significava, para nós, a probabilidade de anteciparmos o regresso a Portugal. Seria apenas em Setembro de 1975, 11 meses depois...
Ao mesmo tempo, 24 de Outubro de 1975 e depois de assinar o cessar fogo, Agostinho Neto, presidente do MPLA afirmava-se disposto a integrar o Governo de Transição de Angola - posição que UNITA e FNLA já tinham assumido. Era um tempo de esperança!
Há 41 anos, o MPLA assinou o cessar
fogo e, segundo o Diário de Lisboa de 24 de
Outubro de 1974, preparava «a
consolidação da paz» em Angola
Piores, muito piores, estavam as coisas um ano depois, já com os Cavaleiros do Norte em Portugal. Estávamos a 17 dias de independência e o Diário de Lisboa titulava: «Situação grave em Angola». E qual era a situação? Um comunicado do MPLA, que controlava a capital e a maior parte do território, frisava que «Angola está sujeita a uma invasão estrangeira, a soldo do imperialismo, a qual de processa em várias frentes».
O comunicado foi lido por José Van Dunnem, aos microfones da Emissora Oficial de Angola, e mobilizava «todos os homens, entre os 18 e os 35 anos», não para a frente de combate «sem  instrução», porque «os efectivos regulares do MPLA são suficientes para as necessidades imediatas», mas para «constituir uma força militar mais ampla, face à invasão do território».  
Há 40 anos, noticiava o Diário de
Lisboa: «Situação grave em Angola».
 Estava-se a 17 dias do do dia
da declaração de independência
A situação no Caxito tinha sido de «intenso duelo de artilharia» na véspera, mantendo-se mais ou menos as mesmas posições de MPLA e FNLA. O MPLA «conserva(va) a cintura defensiva em torno de Luanda» e, segundo o seu Comité Central, «prepara o contra-ataque». No momento, segundo o despacho do Diário de Luanda para o Diário de Lisboa, «os combates desenrolam-se na zona do Quifandongo/Salassembas, Porto Quipiri e Morro da Cal». Ainda na área de Luanda, o MPLA anunciou «a libertação das áreas do Quizondo e Zemba, de onde os mercenários da FNLA foram expulsos».
A situação na Frente Sul, «pressionada pelas forças invasoras, constituídas por mercenários recrutados na África do Sul, pelo traidor Daniel Chipenda e por forças regulares daquela país, mantém-se grave», como relatava o jornal, frisando que «os agressores ultrapassaram já Chíbia (antiga General João de Almeida) e aproximam-se de Sá da Bandeira».
As FAPLA, segundo o Diário de Lisboa, «efectuaram um recuo estratégico para garantirem a defesa da cidade» e os dirigentes do MPLA opinavam que «este avanço sobre Sá da Bandeira poderá vir a transformar-se numa imensa ratoeira para os agressores, que poderão ser cercados e privados das suas fontes de reabastecimento, que residem totalmente em território administrado pela África do Sul, na Namíbia».
Do Norte, do Uíge, não havia notícias na imprensa de 24 de Outubro de 1975. Há 40 anos!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

3 292 - Cinema no Clube do Quitexe e tropas na vila do Caxito

Cavaleiros do Norte na Messe de Sargentos do Quitexe. Os furriéis milicianos 
Cândido  Pires, Victor  Velez, Miguel Santos, José Pires (só se vê a testa), António 
Cruz  (de óculos) e o Manuel Machado. De  pé. o Lages (do bar). À direita, 
o Graciano,  Fernando  Pires (?. dos morteiros),Viegas,  Neto (de óculos),  Mosteias 
e Rocha e os 1ºs. sargentos Luzia  e Aires. Atrás e de pé, o Rebelo


Os furriéis milicianos Miguel Santos
(paraquedista), Viegas (disfarçado de mulher)
e Francisco Neto. Há 41 anos, no Quitexe!
A 23 de Outubro de 1974, terminaram as sessões cinematográficas que desde o dia 10 se exibiam nas unidades do BCAV. 8423 - no Quitexe, em Zalala, em Aldeia Viçosa e Santa Isabel, para além de Vista Alegre. O filme integrava «o programa de acção psicológica sobre as NT» e é desse tempo o «travestismo»do furriel Viegas, disfarçado de mulher e a assistir ao filme, no Clube do Quitexe - no qual, aproveitando o escuro da noite, um jovem oficial, pensando-o jovem moça a ferver de cio, lhe começou a pôr a mão nos joelhos, querendo fazê-la medrar para partes mais íntimas. Ver AQUI.
O dia era quarta-feira e soube da confirmação oficial do cessar fogo, da parte do MPLA. A imprensa do da noticiava mesmo que seria possível, logo em Novembro, a formação do Governo de Transição de Angola. O acordo foram feito no Moxico e Agostinho Neto era anunciado, no dia seguinte, para inaugurar a sede do movimento em Luanda.
Um ano depois, e com o dia da independência cada vez mais próximo, a FNLA continuava senhora do Caxito e as suas tropas e as do MPLA desenvolviam «intensas movimentações» nas imediações desta vila e da Barra do Dande - a 53 quilómetros de Luanda.
Há 41 anos, admitia-se um
Governo de Transição de Angola
para Novembro de 1974
O MPLA tinha expulso a FNLA daquela vila, «importante nó rodoviário de ligação de Luanda ao Ambriz», a 6 de Outubro, mas o ELNA/FNLA havia-a recuperado logo depois e tal reconquista significava, segundo alguns observadores, «sérios obstáculos às ofensiva que o MPLA mantinha em curso, nomeadamente a sul, contra Nova Lisboa, e a norte, rumo ao Ambriz e a Carmona». A «nossa» Carmona e o «nosso» Uíge! Os mesmo observadores, citados pelo Diário de Lisboa, consideravam que «a acção das forças da FNLA foi largamente facilitada pela deslocação de importantes efectivos do MPLA para a região de Nova Lisboa e pela concentração de tropas na Frente Norte»
Notícia de há 41 anos!
«É necessário que à força dos exércitos mercenários possamos contrapor a força revolucionária das forças trabalhadoras», disse Lopo de Nascimento, que era o 1º. Ministro do Governo de Angola - de que, fazia já algum tempo, voluntariamente  tinham saído todos os ministros da FNLA e da UNITA. 

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

3 291 - Governo sem movimentos e o MPLA em força



Cavaleiros do Norte das Transmissões de Zalala: António Lago e Rogério Raposo 
(de pé), Fernando Coelho, 1º. cabo Hélio Cunha, 1º. cabo Ângelo Lourenço, José 
Aires e Carlos Costa (Carlitos) 

A Estrada do Café, no Quitexe, em foto de
By Bembe, em Julho de 2010. O edifício da
bandeira era a Geladinha do Quitexe do tempo dos
 Cavaleiros do Norte



A 22 de Outubro de 1974, Daniel Chipenda, em Kinshasa, apelou às outras duas tendências do MPLA, no sentido de, com a UNITA e a FNLA, criarem uma frente comum «em vista das próximas negociações da independência de Angola com Portugal».
Chipenda liderava um terceira e anunciou o seu regresso a Angola, para «tratar separadamente com os portugueses», considerando que «os acordos de Brazzaville estavam há muito ultrapassados, já» devido ao que considerou «atitude de Agostinho Neto», que, segundo disse, «não conseguia reunir a direcção provisória» do MPLA. Ao mesmo tempo, o Governo Português continuou negociações com o MPLA - o único movimento que ainda não tinha declarado o cessar fogo. O Jornal A Província de Angola desse dia dava conta que «um representante pessoal do dr. Agostinho Neto avistou-se no Luso com o número 2 da Junta Governativa», o comodoro Leonel Gomes Cardoso.
Uma ração de combate do tempo da
 guerra colonial, anda embalada
A UNITA, neste mesmo 22 de Outubro de há 41 anos e pela voz do presidente Jonas Savimbi, declarou que «só participaria no Governo se os outros dois movimentos de libertação participassem». Em entrevista ao semanário luandense «Semana Ilustrada», Savimbi explicou que «como os outros movimentos não quiseram participar, o Governo de Transição não teria elementos dos movimentos».
Ao tempo, Holden Roberto, presidente da FNLA foi recebido por Mobutu Sese Seko, presidente do Zaire.
Um ano depois, e cada vez mais próximos do dia da independência, a situação política e militar não tinha sofrido grandes alterações. O Diário de Lisboa noticiava que «as forças populares, após a descompressão da área dos conflitos, adoptaram um dispositivo de defesa em toda a linha que liga a estrada de Caxito a Catete, passando pela Funda-Banza Quitel e Quiminha».
As FAPLA, exército do MPLA, reforçou
a sua posição na frente norte, há 40 anos,
nas vésperas da independência de Angola
«Existe um reforço das posições do MPLA em toda a frente de combate», noticiava o jornal vespertino Lisboa, acrescentando que «a estrada Luanda Dondo e a própria cidade do Dondo estão sob total controlo das forças populares, não havendo sequer qualquer ameaça a estas posições por parte das forças mercenárias».
A contra-ofensiva das FAPLA´s, nos dias anteriores, relatava o Diário de Lisboa, «fizera recuar os importantes efectivos de mercenários para posições a norte do rio Dange, em direcção ao Caxito». Efectivos mercenários eram, na linguagem do MPLA, as forças da FNLA.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

3 290 - Desarmamento das milícias e (re)tomada do Caxito

Cavaleiros do Norte no Quitexe. Furriéis Fernandes e Graciano (da 3ª. CCAV.), 
umcombatente da FNLA e Neto (CCS). Em baixo, Rocha (CCS) e Querido 
e Cardoso (3ª. CCAV.)

Grupo de Cavaleiros do Norte de Aldeia
Viçosa, à civil A foto é do Aniano - o
terceiro, a contar da esquerda. Quem ajuda
a identificar os restantes?

O desarmamento das milícias começou a processar-se a 21 de Outubro de 1974 - hoje se fazem 41 anos. O tempo passa, mas não deixa esquecer as dificuldades de tal objectivo, já que «não teve boa aceitação da parte dos povos, nomeadamente nos postos-sede» - os do Quitexe e de Aldeia Viçosa, como se lê no Livro da Unidade.
«Sabe-se que os povos apresentados e a FNLA vivem em contacto permanente, quase geral há largos anos. Sabe-se até que poucas vezes, e salvo honrosas excepções, as milícias não tiveram actuações de vulto, em defesa dos seus aldeamentos mas, mesmo assim, argumentam os povos que esses núcleos armados são a sua melhor defesa às acções de depradação e exigência do IN», anota o Livro da Unidade, precisando que esse argumentos era «difícil de contrariar», já que «é impossível garantir a sua vivência pacífica, pois as NT não chegarão para superar todas as situações que se lhes apresentem». Compreende-se!
Um ano depois, e com o dia 11 de Novembro cada vez mais próximo (o da independência), o MPLA anunciava que «após violentos combates, os mercenários da UPA/FNLA/UNITA tiveram de abandonar as posições que ocupavam junto ao rio Dange, recuando para ao norte, em direcção ao Caxito».
Notícia do Diário de Lisboa sobre a
situação político-militar angolana, a
21 de Outubro de 1975
O Diário de Luanda, em serviço para o Diário de Lisboa desse dia de jhá 41 anos, noticiava que «dada a violência dos combates, não é possível fazer uma pormenorizada descrição do que se passa, mas é de crer que a ofensiva desencadeada às primeiras horas de hoje, leve as FAPLA a recuperar o nó rodoviário do Caxito, no ponto de Sessa Mabubas, estrada que liga ao Ambriz e ao Piri».
As notícias da «nossa» ZA é que escasseavam. A 21 de Outubro de 1975, soube-se, todavia e através do DL, que as FAPLA (exército do MPLA) «tomaram ontem de assalto a povoação de Kiculungo, a cerca de 70 quilómetros de Camabatela, na estrada que liga ao Uíge e ao Negage». Camabatela fica(va) a uns 40 quilómetros do Quitexe, mais ou menos a mesma distância entre Carmona e Negage.
A sul, «a situação mantém-se estacionária» e no Centro «a situação da cidade de Nova Lisboa é insustentável». A UNITA anunciou que ia encerra as suas emissões, por «falta de energia» - o que significava, na leitura do MPLA, que «as forças mercenárias da UPA/FNLA/UNITA já não controlava a barragem do Biopio, na estrada que liga Nova Lisboa ao Balombo e Lobito».

terça-feira, 20 de outubro de 2015

3 289 - Três independências, três governos, uma tragédia...

Cavaleiros do Norte de Zalala. Quem os identifica? O primeiro da esquerda, 
em baixo, é o Cunha (enfermeiro). A foto é do açoreano Idalmiro Vargas
Os furriéis milicianos António Fernandes
(da 3ª. CCAV. 8423) e Viegas (CCS) e, momento
de passeio na Rua de Baixo (Avenida)
do Quitexe, há 41 anos 

O presidente do MPLA afirmou, a 20 de Outubro de 1975, que «o povo angolano prepara-se para assumir as suas responsabilidades de povo livre dentro do condicionalismo herdado de uma situação colonial específica e de um período de descolonização em que a potencia colonizadora foi incapaz de ultrapassar o papel de intermediário, que foi o seu na época de exploração colonial-imperialista».
Agostinho Neto, na mensagem  ao povo angolano e a poucos dias do 11 de Novembro, considerou que «organizações ditas nacionalistas preparam uma invasão de Angola pelo Norte» e culpou «determinados responsáveis portugueses, de cuja hesitação e por vezes mesmo colaboração se aproveitaram as ditas forças».
Holden Roberto, no Ambriz - onde a FNLA tinha instalado a sua sede provisória -, mostrou à Comissão de Conciliação da OUA 2 roquetes de 122 mm,de fabrico soviético, alegadamente dos 500 mísseis terra-ar lançados elo FNLA sobre as suas forças. E disse a FNLA esperava entrar em Luanda no dia seguinte - uma terça-feira, dos 21 de Outubro de 1975. O MPLA desmentiu tal possibilidade, afirmando que «assegurava», como se lê no Diário de Lisboa, «a defesa da capital angolana» e contando com o «apoio das massas populares».
Notícia sobre Angola no Diário de Lisboa
de 20 de Outubro de 1975
A situação política angolana agudizava-se, a esse tempo, e a Comissão da OUA procurava «conciliar os três movimentos de libertação». AO lto-Comissário Leonel Cardoso, entretanto e em entrevista ao jornal O Século, admitia ser possível «a transmissão do poder a dois movimentos», mas, em Nova Lisboa, o presidente da UNITA afirmava que «se não fosse encontrada já uma plataforma de acordo, a independência seria declarada unilateralmente por cada um deles», Tal situação levaria, admitia Jonas Savimbi, «a dois, se não três governos, e isso será uma tragédia».
Um ano antes, com os Cavaleiros do Norte aquartelados no Quitexe (CCS), em  Zalala (1ª. CCAV.), Aldeia Viçosa (2º. CCAV.) e Santa Isabel (3ª. CCAV.), prosseguia «o êxodo dos trabalhadores rurais, que teve elevado incremento (...), provocando o fecho de algumas fazendas». Continuavam o patrulhamentos inopinados e os serviços de ordem, preparando-se, por outro lado, o desarmamento das milícias rurais. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

3 288 - FNLA combate o MPLA e não as populações civis

Cavaleiros do Norte no jardim da piscina, nos últimos dias de Carmona: Nelson 
Rocha (furriel de transmissões), Pedrosa de Oliveira (alferes atirador da 3ª. CCAV.) e 
furriéis Manuel Machado (mecânico de armamento), José Lino (mecânico-auto da 
3ª. CCAV.) e António José Cruz (rádio-montador


Rodolfo Tomás, 1º. cabo (que hoje
faz 63 anos), António Pais e António Silva,
todos rádio-montadores do Quitexe


Há precisamente 40 anos, em data de Outubro de 1975 cada vez mais próxima do 11 de Novembro (dia da proclamação da independência de Angola), a FNLA, a partir de Kinshasa, dirigiu «um apelo patriótico e amistoso» a todas as populações angolanas e portuguesas, no sentido de, como referia o Diário de Lisboa, «não se envolverem nos combates que opõem a FNLA aos grupos armados apoiados pelo social imperialismo». Ao MPLA, por palavras palavras.
Ao receio de serem apanhadas pelos dois fogos, na sequência do (anunciado) ataque a Luanda, a FNLA sublinhava que o seu Exército de Libertação Nacional de Angola - o ELNA - «dá combate as tropas do MPLA e não às populações civis, sejam elas angolanas ou portuguesas».
«Os portugueses que vivam em Angola - prosseguia o comunicado tornado público em Kinshasa - são amigos e irmãos. Os dirigentes da FNLA jamais tiveram a intenção de perseguir as populações por motivo da sua opção política. Angola precisa da energia de todos os seus habitantes, tanto negros como brancos,  para constituir uma nação racialmente harmoniosa e economicamente próspera».
Os Cavaleiros do Norte, por esta altura de 1975, já se encontravam em Portugal há mês e meio, mas o que se passavam em Angola não nos era indiferente. O que faltava era noticiário do Uíge - do «nosso» Quitexe e da «nossa» Carmona -, sobrando apenas as pouco pormenorizadas e esclarecidas notícias de que era território controlado pela FNLA. Já assim era o nosso tempo, quando pouco se sabia do MPLA (que por lá não se via) e muito menos (quase nada) da UNITA.
A FNLA, em comunicado divulgado
em Kinshasa, quis tranquilizar os portugueses
sobre o futuro (então) próximo de Angola,
em Outubro de 1975
Um ano antes, em Outubro de 1974 e depois do ataque entre as Fazendas Alegria II e Ana Maria, no dia 14 (de que resultou a morre de dois civis europeus) e as pilhagens (a 18) no troço Quitexe-Aldeia Viçosa, acentuaram-se os «patrulhamentos inopinados» das NT na Estrada do Café, «procurando contrariar esta acção de banditismo», nomeadamente aquando do «aparecimento de queixas». Só que, frisa o Livro da Unidade, «à aproximação das NT, a FNLA furta-se ao contacto e, consequentemente, não se evita a acção já realizada e a realizar, á posteriori», pois, na verdade, «a presença das NT não é, e não pode ser, contínua».
Era esta, há precisamente 41 anos, a vida operacional dos Cavaleiros do Norte: contrariar acções banditismo. Nada apetecível e seguramente muito perigosa.

domingo, 18 de outubro de 2015

3 287 - Pilhagens no Uíge e (não) avanço da FNLA sobre Luanda

Cavaleiros do Norte do Quitexe, todos furriéis milicianos. Atrás: Francisco 
Bento, emigrado em França (que hoje comemora 63 anos), Nelson Rocha, Viegas, 
António Flora, António Lopes (enfermeiro), Luís Capitão (falecido a 5/01/2010) e 
Delmiro Ribeiro. Em baixo, José Carvalho. Agostinho Belo, 
José Lopes e Armindo Reino 


O já então ex-alferes Carlos Silva voltou
a Angola para casar com Belmira, seu amor de
sempre. Foi a 18 de Setembro de 1975.
Hoje se fazem 40 anos!!!
O troço Quitexe-Aldeia Viçosa, da Estrada do Café - que liga(va) Carmona a Luanda - foi espaço, a partir de 18 de Outubro de 1974, para a FNLA começar a realizar «actividade de pilhagem aos utentes dos itinerários». Por alguma razão e desde princípio do mês, as NT vinham a «realizar intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamente orientada para a obtenção de liberdade de movimentos», como testemunha o Livro da Unidade.
O mesmo dia foi tempo, em Abidjan, capital da Costa do Marfim, para a OUA anunciar o seu «reconhecimento de facto» da UNITA como movimento libertador de Angola, atribuindo-lhe, inclusive, um apoio de 15 000 libras. O reconhecimento oficial seria «em breve» e John Kakumba, dirigente da UNITA, declarava que «os brancos que escolherem continuar em Angola terão os mesmos direitos que terei e que terá qualquer outro angolano».
A UNITA, há 41 anos, garantia
que os angolanos bancos teriam os mesmos
direitos dos negros, como titulava o Diário de
Lisboa de 18 de Outubro de 1974
 de 18 de Outubro deAo tempo, o optimismo era crescente e os três movimentos ir-se-iam reunir em Zanzibar (Estado semi-autónomo da Tanzânia), para, como refere o Diário de Lisboa desse dia, «criarem uma frente unida. para as negociações com Portugal para a independência de Angola».
O futuro mostraria quanto de excessivo era esse optimismo. Um ano depois, 18 de Outubro de 1975, um sábado, o iminente ataque da FNLA a Luanda era desmentido pelo MPLA, que controlava a capital angolana (ver post de ontem). As zonas de combates mais violentos, segundo o comandante Júlio de Almeida Juju (MPLA), eram na linha do rio Dange (entre a Barra do Dande e Quibaxe). Mas a Barra do Dande e a rota para Luanda estavam «sob cotrole das FAPLA». Assim como Cage, Mukundo, Santa Eulália e outras. O ELNA/FNLA, segundo Juju, dominava Libongos e Caxito e progredia pelo Úcua e até ao Piri.
Notícia do Diário de Lisboa de 18 de
Outubro de 1975, sobre o avanço da FNLA
sobre Luanda, desmentido pelo MPLA
No Quanza Norte, as FAPLA tinham tomado Samba Caju, após violentos combates (com muitos mortos e apreensão de material bélico), assim como Banga e, já no Uíge, Cangola. Ver AQUI. Sobre o «iminente ataque da FNLA a Luanda» e também «a notícia alarmista de que Holden Roberto chegaria hoje a Luanda», referia o Diário de Lisboa que foi divulgada por «um tal senhor Bernard Woth, um perigoso reaccionário que sendo enviado da France Pressa  Luanda foi há um mês convidado a retirar-se daqui, por motivo das notícias tendenciosas que enviava». Agora, em Kinshasa, relatava o jornal, «está aos serviços doa patrões da UPA/FNLA».
O dia 18 de Outubro de 1975 foi um sábado e grávido de notícias sobre Angola. Foi também, e aqui queríamos chegar, o dia do casamento, em Luanda, do alferes Carlos Silva, Cavaleiro do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel - que, por amor, a Angola voltou e ao altar levou a Belmira dos seus sonhos. Agora, 40 anos depois, sabemos que a felicidade desse dia se foi ampliando e está multiplicada nos seus ninhos d´amor, em Tomar e Ferreira do Zêzere. Os parabéns são bem merecidos!!! 
1 - Casamento do alferes 
Carlos Silva. Ver aqui